* Por Thiago Marques

Uma sociedade só pode ser próspera quando a solidariedade está presente, pois é ela quem a sustenta e a fortalece. O voluntariado possui intrínseca relação com a solidariedade, pois por meio da cooperação entre os indivíduos, produz-se uma sociedade mais coesa, justa e sustentável. Conforme a definição da Organização das Nações Unidas, uma pessoa voluntária é quem, motivada por interesse e compromisso cívico, dedica parte do tempo para participar de diversas atividades, com foco no bem-estar social. No contexto brasileiro, a Lei nº 9.608 de 1998, que aborda o tema, concebe o voluntariado como uma ação prestada por pessoas e organizações a instituições que tenham como propósitos causas cívicas, culturais, educacionais, científicas e assistenciais.

Apesar das importantes conquistas da humanidade, propiciadas pelo avanço das técnicas nos últimos anos, ainda temos o desafio de superar as desigualdades sociais em diferentes partes do mundo. Problemas como a fome, o desemprego, a falta de acesso à educação e à saúde, os conflitos geopolíticos e, ainda, a crise climática, são algumas das questões a serem superadas neste século. As políticas públicas são imprescindíveis para a universalização do acesso aos direitos e para o exercício da cidadania. Todavia, o investimento social privado, em parceria com as organizações do terceiro setor, é fundamental para reduzir as desigualdades e promover a justiça social. Para viabilizar isso, é necessária a construção de parcerias, envolvimento e engajamento de todos os setores da sociedade.

Conforme aponta o Censo GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), o investimento social privado no Brasil tem crescido nos últimos anos, totalizando R$ 5,3 bilhões em 2020 – um aumento de 63% comparado ao investimento realizado em 2018. Desse total, cerca de 75% são recursos provenientes de doações das empresas mantenedoras ou de fundos patrimoniais. Ou seja, fica evidente a capacidade do investimento social privado e a relevância das parcerias entre empresas e organizações da sociedade civil.

Além dos investimentos em recursos financeiros e a colaboração entre os diferentes setores da sociedade, é importante ressaltar que todas as transformações necessárias para construirmos uma sociedade mais justa e sustentável são realizadas e materializadas por pessoas. Portanto, o trabalho deve ser feito de pessoas para pessoas. E o voluntariado une as pessoas.

Por meio da implementação de programas de voluntariado corporativo, as empresas investem em seus colaboradores e na produção de uma cultura organizacional solidária; e ainda,  reforça o sentimento de pertencimento, cria a oportunidade de desenvolvimento de competências, fortalece os vínculos entre as equipes, aprofunda as relações com a comunidade, e contribui para estratégias de impacto e investimento social privado, além de promover a atração de talentos e a valorização da marca perante os stakeholders–  considerando a crescente importância da agenda ESG (Ambiental, Social e de Governança) nas decisões do mercado. Portanto, ao promover programas de voluntariado corporativo, todos saem ganhando: empresas, colaboradores, comunidades e territórios.

De acordo com a Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, em apenas duas décadas, o número de pessoas que já praticou alguma atividade voluntária em algum momento de suas vidas mais que triplicou, saltando de 18% para 56% da população. Isso significa que 57 milhões de brasileiros e brasileiras doaram, em 2021, seu tempo, talento e energia em prol de causas nas quais acreditam, tendo um impacto significativo na vida das pessoas beneficiadas por essas ações. A solidariedade foi apontada como a principal motivação, mencionada por 74% dos voluntários.

No World Giving Index 2021, um estudo global realizado pela britânica Charities Aid Foundation (CAF), o Brasil ocupa 54º lugar entre 114 nações. Esse ranking de solidariedade engloba ações como doações e voluntariado, e o Brasil avançou significativamente, subindo 14 posições em relação a 2018 e 20 posições em comparação à média dos 10 anos anteriores. Isso reflete o compromisso crescente da população brasileira com a solidariedade e a colaboração em benefício de um mundo mais justo e sustentável.

Neste cenário, observa-se que o voluntariado tem se desenvolvido no Brasil. Mesmo diante do impacto da pandemia e das medidas de isolamento social, que demandaram adaptações rápidas, a sociedade brasileira demonstrou resiliência. Surpreendentemente, 47% dos voluntários intensificaram seu comprometimento, e 21% começaram a participar de atividades voluntárias on-line, especialmente em prol de iniciativas educacionais. Esses avanços não surgiram espontaneamente; eles são resultados do esforço e do investimento de inúmeras organizações e pessoas.

Desde sua fundação, a JA Rio de Janeiro tem capacitado e mobilizado mais de 17 mil pessoas voluntárias, implementando programas e projetos com impacto direto em mais de 350 mil jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Em 2022, a organização conduziu uma pesquisa em conjunto com suas empresas parceiras, focando no voluntariado corporativo como estratégia ESG. Os resultados dessa pesquisa são notáveis, com 80% dos entrevistados concordando integralmente que, ao apoiarem de maneira voluntária os projetos da organização em colaboração com as empresas, estão fortalecendo o compromisso conjunto com o avanço das metas de ESG, conferindo eficácia a essas ações.

Por fim, é importante salientar que o voluntariado e a solidariedade estão relacionados à promoção da cultura da paz entre os povos. A JA Rio de Janeiro, como membro da JA Wordwide, uma das dez organizações sociais mais impactantes do planeta e indicada duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz (2022 e 2023), consolida-se no Brasil como uma organização comprometida com a agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Convido você e a sua empresa a fazer parte do nosso mundo de possibilidades! Invista em ações, programas e experiências educacionais e contribua com o fortalecimento do voluntariado corporativo no Brasil.

* Thiago Marques é Gerente de Desenvolvimento Institucional e Parcerias na JA Rio de Janeiro. Possui ampla experiência executiva em organizações do terceiro setor, empresas privadas e instituições públicas, liderando projetos estratégicos nas áreas de sustentabilidade, responsabilidade social, educação, meio ambiente e ESG. É geógrafo formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e gerente de Projetos pela Universidade de São Paulo (USP).