*Por Michele França

Nos últimos meses  tenho refletido sobre a minha trajetória profissional e como iniciei essa jornada de Impacto Social. Sou pedagoga de formação, e posso garantir que essa caminhada não foi linear. Foram as experiências vividas ao longo da minha carreira que moldaram a profissional que sou hoje. Num mundo em constante evolução, a educação desempenha um papel fundamental na formação das próximas gerações e na construção de um futuro melhor. Atualmente, meu foco profissional é explorar as interseções entre a Educação, o Impacto Social, a Responsabilidade Social e os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança). Neste artigo, compartilho a minha visão sobre como podemos transitar em espaços diversos por meio da pedagogia, com múltiplas possibilidades de atuação profissional, que podem ser uma ferramenta poderosa para criar mudanças positivas na sociedade.

Minha jornada como pedagoga começou com uma paixão profunda pelo aprendizado e pelo desejo de compartilhar conhecimento. Desde minha formação acadêmica até minha experiência atual, enfrentei desafios e oportunidades que moldaram minha visão e me fizeram perceber que a educação vai além das salas de aula tradicionais. Ao longo dos anos, tive a oportunidade de trabalhar com estudantes de diferentes idades e origens culturais. Cada experiência me ensinou a importância da empatia, da adaptação e da compreensão das necessidades individuais dos alunos.

Iniciei minha trajetória como recepcionista. Logo, a minha habilidade em comunicação me possibilitou migrar para área de Vendas. E foi assim que comecei a atuar como operadora de telemarketing, trabalhando em três empresas diferentes. Cursei meu Ensino Médio com o antigo Magistério, mas sempre desejei atuar com Comunicação Social e Jornalismo. Depois de algumas tentativas de vestibular, não consegui a vaga que tanto desejava. Então, optei em fazer uma graduação em Pedagogia em uma instituição perto da minha residência, na comunidade da Vila Vintém, em Padre Miguel, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Entendendo a necessidade de impulsionar meu currículo, fui em busca de um curso em paralelo à faculdade, e iniciei minha jornada na educação inclusiva, no Instituto Nacional de Educação de Surdos, em Laranjeiras. Lá, durante os seis meses em que estudei, conheci profissionais da Educação que atuavam com inclusão dos jovens surdos no mercado de trabalho, e assim percebi outras frentes e possibilidades de atuação. E foi nesse momento que a minha paixão por desenvolvimento de pessoas e diversidade e inclusão iniciou.

Atuei posteriormente como estagiária de Treinamento e Desenvolvimento em uma empresa familiar. Em seguida, fui para uma multinacional de alimentos, um espaço que sempre me pareceu extremamente distante. E foi nessa experiência que meu mundo se abriu. Embora exaustivo, muito dinâmico e desafiador, fiquei encantada pelo trabalho em uma fábrica e suas possibilidades constantes de aprendizado. E os desafios de atuar em uma empresa com tantas subáreas, procedimentos e funcionários é imenso. Mesmo me dedicando de corpo e alma para essa oportunidade, não existia espaço para mim naquele período, e não fui efetivada. Fiquei triste, frustrada e, a partir dessa experiência, comecei a questionar minha capacidade de entrega. Os meses se passaram, e voltei a atuar na área de Treinamento e Desenvolvimento em mais duas instituições, no time de Recursos Humanos. Até que, um belo dia, recebi o famoso telegrama em casa, com a convocação para assumir um cargo público, de um concurso que havia feito assim que terminei o Ensino Médio.

Para muitos, um sonho. Mas, esse não era o meu sonho. Mesmo assim abracei a oportunidade e fui viver essa experiência. Deixei o que tinha iniciado como ideal de carreira para trás. Durante os sete anos seguintes, tive a oportunidade de vivenciar várias vezes o âmbito escolar. Atuei como professora regular, professora de atendimento educacional especializado, atendendo alunos com deficiência. Ocupei uma posição na Secretaria de Educação, na equipe técnica da Educação de Jovens e Adultos do município, assumi o cargo de coordenação do setor responsável pelo Programa Nacional do Livro Didático, Incentivadores de Leitura e equipe de fomento a Lei 10.639 e 11.645, o que foi um divisor de águas na minha reconstrução de identidade racial. Mais à frente, assumi a Gerência de Educação de Jovens e Adultos e Horário Integral da rede de ensino, além da Coordenação de Projetos. Foram sete anos de muito trabalho, uma grande evolução pessoal e profissional. Após esse longo período, decidi voltar minha atenção para meu sonho guardado e retornei ao mercado de trabalho, como coordenadora de Projetos na ONG JA Rio de Janeiro, onde atuo desde 2018.

A educação não é apenas sobre o que ensinamos, mas também sobre como ensinamos.

Como disse anteriormente, não foi uma linha reta que me trouxe aqui. Mas, sim, as diversas experiências que atravessaram o meu caminho, pessoas diversas que deixaram suas marcas e moldaram a profissional que sou hoje. Todo educador, em sua prática, entrega um impacto social positivo. E o pedagogo é o profissional que atua a todo momento com projetos. Porém, alguns cumprem esse papel sem a devida intencionalidade. Por isso, a minha dica para quem deseja ocupar esses espaços é: busque autoconhecimento constantemente. Somente assim será possível compreender nossas potencialidades e oportunidades de melhorias. Praticar o autoconhecimento é ter o poder de gerir sua vida com mais segurança. Acredito que a pedagogia pode ser uma ferramenta poderosa para criar impacto social positivo. Ela não se limita apenas a transmitir conhecimento, mas também a inspirar, motivar e capacitar alunas e alunos para se tornarem cidadãos ativos e conscientes. Em minha carreira, tive a oportunidade de trabalhar em projetos educacionais que visavam não apenas ao desenvolvimento acadêmico, mas também ao fortalecimento das habilidades socioemocionais, da cidadania ativa e do respeito pela diversidade. Projetos como esses têm o potencial de moldar futuras lideranças e catalisar mudanças sociais importantes.

A Responsabilidade Social e os princípios de ESG estão conquistando destaque em empresas e organizações em todo o mundo. Esses conceitos precisam passar pela Educação, pois a forma como formamos as gerações futuras desempenha um papel crucial na construção de um mundo mais sustentável, inclusivo e ético. Os pedagogos desempenham um papel fundamental na transmissão desses princípios. Isso envolve não apenas ensinar sobre questões sociais e ambientais, mas também incorporar esses valores na própria prática educacional, seja ela em espaço escolar ou corporativo. A educação não é apenas sobre o que ensinamos, mas também sobre como ensinamos. Se você atua em um espaço escolar e deseja fazer uma transição de carreira, faça esse exercício na própria escola e comece a se desenvolver.

Integrar os princípios de Responsabilidade Social e ESG na Educação nem sempre é fácil. Enfrentamos desafios, como falta de recursos e resistência à mudança. No entanto, esses desafios também representam oportunidades para inovar, colaborar e promover uma educação mais significativa e impactante, além de serem poderosos aliados em qualquer projeto desenvolvido.

Ao adotar esses princípios em minha carreira, aprendi que podemos superar obstáculos quando estamos comprometidos em criar valor social. A colaboração entre colegas, pais e comunidades é essencial para enfrentar esses desafios e realizar mudanças. Entendam que juntos caminhamos com muito mais segurança, e isso vale para qualquer contexto da vida.

Sim, a minha jornada como pedagoga tem sido de muita descoberta, aprendizado, conexões e paixão pelo social. Acredito firmemente que a educação é e sempre será uma força poderosa para transformar a sociedade, e os princípios de Responsabilidade Social e ESG podem e devem compor a base de nossas práticas educacionais.

Convido todas as pessoas profissionais que atuam com Pedagogia e Educação a refletirem sobre como podem contribuir para um mundo mais sustentável, inclusivo e ético por meio de sua profissão, independentemente da área de atuação. Cada ação, por menor que seja, pode fazer a diferença. Vamos construir juntas e juntos um mundo de possibilidades mais brilhante por meio da Educação e do Impacto Social.

 

* Comprometida em promover mudanças positivas e sustentáveis na sociedade através da Responsabilidade Social Corporativa e ESG, Michele França tem sólida experiência com desenvolvimento e gestão de programas e projetos. É pedagoga, especialista em Educação Especial Inclusiva e com grande habilidade em engajar stakeholders e promover parcerias estratégicas para maximizar o impacto social, através da medição de indicadores. Tem como missão de vida construir um mundo melhor, no qual empresas e comunidades prosperem juntas, valorizando a diversidade e promovendo a inclusão.